COMECE ELOGIANDO
Na reunião de pais e mestres  



                                               Por Lourdes Vanessa




E aí chega o dia da reunião de pais e mestres e você, professor brasileiro que não desiste nunca, vai ter a oportunidade de conversar, finalmente, com os pais ou responsáveis por  aquela benção que você tem que chamar de "líder" para não dizer outra coisa que só você que está entre quatro paredes com a criatura e mais uns 30 (no mínimo) iria entender... Então, como começar a expor a realidade???? Bem, eu diria: comece elogiando.  Todo mundo tem um lado bom. Mas como encontrar o lado bom de quem faz questão de só virar para você o outro ângulo??? Existe uma técnica que a gente mesmo criou com o passar de algumas experiências variadas desde o século passado: imagine como a pessoa seria se não fosse tão "dispersa" e aí coloque tudo isso depois da frase "Olha, ele/ela tem muito potencial para ..." e no final (só no final) acrescente um "mas...", terminando por dizer o que é preciso de verdade.
Imagino que seria algo do tipo: "Olha, ele/ela tem muito potencial para tirar notas boas, fazer contas maravilhosas com sua rapidez de raciocínio, escrever textos riquíssimos com sua fértil imaginação, ser um líder na vida com sua capacidade de angariar a colaboração dos colegas, um ótimo jornalista/entrevistador com sua rapidez de resposta quando eu peço para ele/ela se sentar no meio de uma explicação, poderá ser um empresário abrindo um circo fenomenal (calma, se segura, repense a penúltima e não diz essa última frase não...), MAS falta um pouco de dedicação e esforço da parte dele/dela nas atividades diárias, é uma pena aquele caderno tão bonito em branco e já com tão poucas folhas restantes para escrever (fenômeno explicado na física como paradoxo das esferas de papel voadoras), precisamos conversar mais para que entenda que precisa se concentrar, que a explicação também é importante para ampliar os horizontes de uma mente genial e também uma grande oportunidade de sanar as dúvidas antes da recuperação (enfim, neste ponto você já pode falar tudo o que é necessário, pois já sabem que você reconhece também os pontos positivos e não chegou com uma avalanche de críticas de fazer qualquer pai/mãe entrar em depressão e usar o recurso do argumento da autodefesa contra você...)". Por isso, nunca, nunca inicie sem elogiar antes. Também não seja irônico a ponto de parecer debochado nem sarcástico (isso não se faz, nunca, com ninguém, eu acho!), apenas seja leve para se proteger de um ataque de nervos e futuros problemas de saúde (tão comum nessa classe profissional). Se você tem filhos, já entende o porquê de evitar abordagens drásticas. Se ainda não os tem, imagine que vá vender o seu carro, companheiro de muitas aventuras vividas durante alguns anos e, ao chegar até o comprador, este só veja os defeitos, as desvantagens e os arranhões "imperceptíveis" na lataria do seu veículo, sem nem sequer mencionar as vantagens de ter um carro tão potente ou bonito ou econômico ou funcional... Seria de revoltar, arrasar, deprimir e acusar o comprador de querer desvalorizar o seu carro apenas para comprar mais barato, não é??? Situações comerciais a parte, nos atendo apenas à sensação que nos deixa no coração essa desvalorização por parte do outro a algo que é nosso por tanto tempo, podemos perceber quanto um elogio de reconhecimento pode ser valioso para abrir a nossa receptividade a opiniões contrárias vindas da mesma fonte. De outro modo, você vai ter que escutar aquela ladainha de defesa do filho do tipo "em casa ele é tão bom" ou ainda, algo que eu já escutei, "se os outros colocam o nome dele no trabalho sem ele fazer nada é um problema dos outros, não dele, pois só demonstra o quanto sabe ser um bom amigo, pois do contrário não fariam isso por ele" (sem comentários!!!). Enfim, aquele ponto em que chegamos a lamentar pela criança porque não vai receber a orientação necessária que precisa fora da escola e somente se empoderar contra esta e seus agentes... E, pensando bem, é de se lamentar pela sociedade e seu futuro também nesses casos! Sempre lembrando que os adultos precisam se unir para o bem das crianças e jovens, tanto a escola com a família, como a escola com a sociedade, com o governo... é melhorando um pouco do que a gente pode que acabaremos por fazer significar nossa passagem por este planeta, tentando nos melhorar e deixar filhos e alunos melhores por aqui também! Afinal, nós, por enquanto, somos os adultos dessa relação e os jovens ainda dependem de nós para servirmos de inspiração e exemplo, com sabedoria e AMOR (sempre)! 
Bem, vamos finalizar esperando colocar um tijolinho, ou um grão de areia, para contribuir com a construção de um mundo melhor, sem deixar de trazer à tona algumas verdades nuas e cruas. Sempre com total abertura à opinião e desabafo de todos os leitores, comprometendo-me a não chamar nada de "mimimi", porque isso mal chega a ser uma premissa e, de qualquer forma, demonstra descaso com a tradição filosófica da argumentação entre os pares e abertura para proposições coletivas  e consequente conclusão com deferência às idiossincrasias, o que sempre será bem-vindo.
Um abraço! E boa próxima reunião!

Crédito das imagens: "talktalk "by tablesalt CC BY 2.0 https://ccsearch.creativecommons.org/

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